Engana-se quem pensa que a automatização de processos vai se restringir ao chão de fábrica. Uma nova lógica de produção nascida com a indústria 4.0, também conhecida como a quarta revolução industrial, deu início a um processo de digitalização sem precedentes em empresas de todos os tipos e tamanhos, incluindo as que atuam na área de saúde.
Um exemplo? A automatização tem levado cada vez mais inteligência ao processamento de exames laboratoriais. Máquinas interconectadas conversam e trocam comandos entre si, organizam o envio de material biológico para o equipamento correto e geram resultados mais precisos e em tempo cada vez mais curto.
Esse é o caso do Grupo Sabin, laboratório que nasceu em Brasília e hoje possui cerca de 200 unidades em oito estados e 3 000 funcionários. Uma nova sede prevista para começar a operar no segundo semestre deste ano, em Brasília, vai ampliar e modernizar o parque tecnológico da empresa.
Entre as novas plataformas de automação laboratorial está uma esteira de 70 metros que será conectada a 25 robôs capazes de fazer análises de amostras nas áreas de bioquímica, sorologia, hormônios e coagulação. O sistema permitirá à empresa dobrar sua capacidade técnica em até cinco anos, podendo chegar a 4 milhões de exames por mês.
Funcionará assim: quando o tubo do exame sair do centro de coleta e chegar ao centro de processamento, um software identificará as informações sobre o paciente e os pedidos médicos para encaminhar o material aos equipamentos específicos. “O contato do nosso funcionário com a amostra biológica é mínimo, o que reduz também qualquer risco de contaminação, além de aumentar a capacidade produtiva”, afirma Lídia Abdalla, presidente executiva do Grupo Sabin.
Com o investimento em novas tecnologias, o Sabin passará a fazer dentro de casa alguns exames que seguiam para parceiros. A tecnologia otimiza o fluxo de trabalho e eleva a qualidade do diagnóstico, assim como o conforto do paciente, uma vez que um único tubo de sangue pode ser usado em vários exames. “O uso da tecnologia coloca à disposição do cliente o que se tem de melhor no mercado em termos de diagnóstico e análises clínicas”, diz Lídia.
Também pensando no conforto do paciente, o laboratório Richet, do Rio de Janeiro, inaugurou, em junho deste ano, o conceito de One Stop Shop, que reúne no mesmo lugar serviços laboratoriais e de diagnóstico de imagem. Tendência mundial, a integração de todos os serviços no mesmo centro de atendimento ainda não tinha chegado à cidade.
No Rio de Janeiro, ainda é mais comum a realização de exames de sangue e de imagem em laboratórios distintos. Mas o Richet quer mudar esse conceito com sua nova unidade. “Em um único lugar, o paciente pode agendar tanto o exame de sangue quanto o de imagem para resolver tudo de forma mais rápida”, afirma Helio Magarinos Torres Filho, diretor médico do Richet.
Com investimento de aproximadamente 15 milhões de reais, a unidade recém-inaugurada recebeu uma série de equipamentos de última geração que ampliaram e modernizaram o parque tecnológico da empresa. Entre os equipamentos para exames de imagem estão, por exemplo, aparelhos de ressonância magnética, tomografia computadorizada, PET-CT e raios X digitais. Além disso, a nova unidade se beneficiará também de uma esteira de automação laboratorial de exames de análises clínicas.
O novo laboratório oferece ainda atendimento personalizado ao paciente. Durante o agendamento, é possível enviar os dados pessoais e os pedidos médicos para agilizar o atendimento no dia marcado. Se quiser que o processo seja ainda mais rápido, o paciente poderá agendar até mesmo o exame de sangue.
“É uma tendência no modelo de negócios a consolidação de atividades correlatas para fazer com que o paciente tenha o conforto de realizar, em um mesmo período, todos os exames necessários”, diz Enrico De Vettori, sócio e líder nas áreas de life science e healthcare da consultoria Deloitte.
Os benefícios também se estendem ao médico, que não só é avisado quando os exames estão prontos como pode acessar os resultados em uma plataforma pela internet. “Além de ter uma visão mais globalizada do paciente, quem faz o laudo tem dados adicionais para confirmar o resultado ou conversar com o médico sobre o caso”, afirma Torres.
Os movimentos feitos pelos laboratórios Sabin e Richet são exemplos de como a área de saúde tem se reinventado com a criação de novos processos que transformam a logística das análises clínicas. “De todos os negócios hoje no Brasil, um dos que mais tem mudado e incorporado a alta tecnologia é o da saúde”, afirma Vettori, da Deloitte.
Segundo ele, as novas tecnologias devem mudar ainda mais esse setor num futuro próximo. “Gastamos muito dinheiro na fase final de vida do paciente. A tendência, agora, é investir mais em prevenção”, diz Vettori. Isso será possível com o auxílio do conceito de indústria 4.0, que, além de informatizar e gerar produtividade, também poderá melhorar a qualidade de vida da população.
Fonte: Exame.com